Tatuagens por J.J Camargo:
Aliás, é impressionante o quanto as pessoas sem senso de humor assumem comportamentos fundamentalistas quando se sentem contrariadas. Dos protestos ficou muito claro o quanto os tatuados são felizes. Só uma felicidade extrema com sua própria imagem justificaria uma resposta tão intensa.
Houve também quem se revoltasse contra minha afirmação de que os adolescentes são pressionados a se tatuar, e, no final, dissesse que me considera um jurássico por ser contra as tatuagens em pleno século 21.
No meio do protesto, fiquei com vontade de abraçar uma senhora que, depois de me chamar de preconceituoso e antiquado, contou uma linda história de vida sofrida, em que cada episódio vitorioso foi registrado com uma tatuagem. A ela meu pedido de perdão mais sincero.
Como escrevi na coluna, nunca pretendi criticar que alguém faça as modificações que lhe aprouver ao seu próprio corpo até porque ele é quem vai conviver com elas para sempre. Portanto, das ponderações a seguir, estão excluídos os tatuados antigos convictos, enrugados ou não. E com um pedido formal de desculpas.
A crônica tinha a pretensão, que agora percebo ingênua, de abordar de maneira bem humorada um tema muito sério, que talvez pela sutileza, não foi adequadamente compreendido. Por isso, vamos aos fatos.
Os jovens, especialmente os adolescentes, incitados ao modismo, precisam ter consciência de uma verdade fundamental: o acesso à tatuagem é uma via sem direito a desistência. Por isso um conselho para evitar que, no futuro, te surpreendas dizendo: "Meu Deus, onde eu estava com a cabeça".
Se a declaração de amor parecer intransferível, tatue apenas o nome e em letras pequenas. Isso facilitará a remoção cirúrgica da legenda, se a expectativa de eternidade não se confirmar. E restará como lembrança do amor, que não passou de um susto, uma cicatriz que poderá ser discreta, se não tiveres tendência a queloide.
Os cirurgiões plásticos recebem inúmeros pacientes com tatuagens do tamanho do arrependimento e usam modernamente uma arma importante — a ressecção a laser. Numa tatuagem localizada, com quatro ou cinco sessões — a um custo médio de R$ 5 mil — poderás trocar tua tatuagem, desde que ela não inclua a cor verde, por uma cicatriz de queimadura. Pele normal, nunca mais.
Por isso, não permitas que um modismo te pressione a assumir condutas que deixem marcas irremovíveis, antes que assumas a maturidade. Enquanto ela não chega, procura evitar as cicatrizes da alma, que lá nós todos acabamos tatuados. Mas quem se importa?
Jornal Zero Hora
Fonte: Jornal Zero Hora
Quando a vida não vale nada por Andréa Saint Pastous Nocchi
Na linda música "Deixando o Pago", o cantor e compositor Vitor Ramil escreve "que o mundo é pequeno e que a vida não vale nada". A morte de mais de 1.100 trabalhadores no desabamento de um prédio em Bangladesh, no final de abril, e o número oficial de 2012 de 2.717 brasileiros que perdem a vida em acidentes de trabalho, demonstram sim, que o mundo é pequeno e que a vida não vale nada.
Pequeno porque a distância entre o Brasil e Bangladesh é imensa, mas a realidade que envolve as precárias condições de trabalho de milhares de pessoas e a desconsideração com a vida humana nos aproximam; pequeno, porque quando trabalhadores, na sua maioria mulheres, perderam suas vidas naquele desabamento e em outros incêndios que antecederam a tragédia, estavam confeccionando roupas para as grandes marcas da indústria têxtil mundial, que o brasileiro consome ou sonha consumir. Algumas delas, pressionadas pela repercussão deste e de outros acontecimentos, firmaram acordo para fiscalizar e financiar medidas de segurança e contra incêndio nas fábricas de Bangladesh.
A tragédia traduzida em morte anunciada tem, pelo menos, três facetas de perversidade. Uma, o trabalho escravo e a total falta de apreço com condições mínimas de dignidade. Outra, a fragmentação dos modos de produção que as terceirizações e todas a divisão da cadeia produtiva disseminam, de modo a desprezar quem e de que forma se produz para valorizar, apenas a capacidade de produção e, ainda, uma terceira, vinculada com à morte por acidente de trabalho.
Qualquer enfoque faz as fronteiras entre o Brasil e Bangladesh desaparecerem neste mundo pequeno. E a vida, que não vale nada lá, também nada vale aqui. Silenciosamente, cerca de sete trabalhadores perdem a vida por dia no Brasil. É mais que o dobro das mortes da tragédia do Paquistão, todo o ano, ano após ano. De tão grave o flagelo, a Organização Internacional do Trabalho pensa em uma campanha mundial para a prevenção de acidentes, o governo brasileiro começa a divulgar ações neste sentido e o Tribunal Superior do Trabalho tem um programa especialmente desenvolvido para conscientização e redução das mortes e doenças profissionais.
Mas, enquanto a prioridade for produzir de modo globalizado e massificado, com baixíssimo custo de altíssimos lucros, a vida não valerá nada e o mundo continuará a ser pequeno, na comunhão das tragédias.
A tragédia traduzida em morte anunciada tem, pelo menos, três facetas de perversidade. Uma, o trabalho escravo e a total falta de apreço com condições mínimas de dignidade. Outra, a fragmentação dos modos de produção que as terceirizações e todas a divisão da cadeia produtiva disseminam, de modo a desprezar quem e de que forma se produz para valorizar, apenas a capacidade de produção e, ainda, uma terceira, vinculada com à morte por acidente de trabalho.
Qualquer enfoque faz as fronteiras entre o Brasil e Bangladesh desaparecerem neste mundo pequeno. E a vida, que não vale nada lá, também nada vale aqui. Silenciosamente, cerca de sete trabalhadores perdem a vida por dia no Brasil. É mais que o dobro das mortes da tragédia do Paquistão, todo o ano, ano após ano. De tão grave o flagelo, a Organização Internacional do Trabalho pensa em uma campanha mundial para a prevenção de acidentes, o governo brasileiro começa a divulgar ações neste sentido e o Tribunal Superior do Trabalho tem um programa especialmente desenvolvido para conscientização e redução das mortes e doenças profissionais.
Mas, enquanto a prioridade for produzir de modo globalizado e massificado, com baixíssimo custo de altíssimos lucros, a vida não valerá nada e o mundo continuará a ser pequeno, na comunhão das tragédias.
Jornal Zero Hora
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